Best blog award goes to… Bauman

“ Se Bauman tivesse postado os comentários deste livro na internet teria sido o melhor blog do mundo.” – Steven Poole

Nesta citação Steven Poole, jornalista e escritor britânico, refere-se à obra “Isto não é um Diário” de Zygmunt Bauman, sociólogo polonês de 91 anos com influência marxista.

“Isto não é um diário” não é, tal como o próprio título indica, um diário, mas sim uma obra que reúne inúmeras reflexões, pensamento e, até mesmo, críticas do autor. Uma particularidade interessante desta obra é o facto de estas reflexões sob forma de comentários serem datadas. O período temporal inclui desde Setembro de 2010 a Março de 2011.

Trata-se de comentários datados acerca de assuntos que dizem respeito à sociedade contemporânea e um dos motivos que justifica o facto de Steven Poole afirmar que se Bauman tivesse publicado num blogue os seus comentários à medida que os escrevia teria sido o melhor blogue do ano é o facto de os comentários apresentados terem como ponto de partida recortes de notícias, tanto de jornais e revistas, como de outros meios. Isto leva a que se trate de assuntos de agenda, temas quentes e que preocupam, ou deveriam preocupar, a sociedade atual. Ao invés de apresentar longas e aprofundadas reflexões acerca dos temas, Bauman, em poucas palavras, levanta questões e faz-nos pensar e refletir, apresentando também curtas conclusões da sua perspetiva do mundo e dos assuntos em questão. O que se pode querer mais de um blogue? Bauman teria, realmente, o melhor blogue do mundo por trabalhar o agora no momento em que deve realmente ser trabalhado. Por nos fazer refletir e explorar os factos para encontrar a nossa própria opinião e sermos conhecedores do mundo em que vivemos. Se a ideia fosse categorizar o hipotético blogue de Bauman, inserir-se-ia na categoria “mundo” porque é precisamente nele e em nós, que fazemos parte dele, que se focam os comentários do autor.

Os assuntos abordados não fazem parte de uma só dimensão, abrangem uma panóplia de temas diversificados como a perda de confiança, a fragilidade das relações, o consumo, os jovens e a sua situação atual face ao ensino universitário e ao desemprego, a tecnologia, questões políticas nomeadamente ligadas aos EUA, a democracia, a crise nos governos, a desigualdade, entre muitos outros.

“Qual é, afinal, a diferença entre viver e contar a vida? Não faria mal aproveitar uma dica de José Saramago, fonte de inspiração que descobri há pouco tempo. Em seu próprio quase-diário, reflete ele: “Creio que todas as palavras que vamos pronunciando, todos os movimentos e gestos, concluídos ou somente esboçados, que vamos fazendo, cada um deles e todos juntos, podem ser entendidos como peças soltas de uma autobiografia não intencional que, embora involuntária, ou por isso mesmo, não seria menos sincera e veraz que o mais minucioso dos relatos de uma vida passada à escrita e ao papel.”

Exatamente.” (Bauman, 2012, p.10)

É no jogo das palavras que Bauman encontra o seu prazer e é precisamente através do simples ato de escrever o que pensa, o que lhe vem à cabeça em qualquer momento que mostra mais de si. Melhor que uma autobiografia de Bauman é este livro em que conseguimos conhecer a sua visão, a sua perspetiva sobre os mais variadíssimos assuntos. Haverá melhor forma de conhecer uma pessoa que através da sua visão do mundo e das suas opiniões? Não é um diário porque o conteúdo não é única e exclusivamente pessoal, mas pode certamente fazer-nos conhecer melhor o autor, através dos seus comentários a temas fundamentais da época que vivemos.

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